terça-feira, 25 de outubro de 2011

O desafio contemporâneo da arte


“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida”. John Dewey.

Aprender é um processo que mobiliza tanto os significados como os sentimentos, ou seja, tanto os símbolos como as experiências a que eles se referem. Assim a necessidade de aprender arte estaria relacionada com a necessidade de comunicação mais primária do ser humano. No caso do aprendizado da arte ficam completamente abandonados objetivos como conseguir um diploma, um emprego ou ganhar dinheiro. A aprendizagem aqui está ligada, no mais verdadeiro sentido, à ampliação dos elementos de linguagem com os quais o indivíduo irá relacionar o seu eu com os eventos do mundo. De posse deste conhecimento aprendido, o ser humano irá além da comunicação, à expressão. Mais do que apenas transmitir conceitos poderá, estimulados os seus mecanismos de criação, reflexão e percepção, manifestar os seus sentimentos.

Apesar dos slogans negativos de que “arte não se aprende”, “arte não é para se compreender”, o ensino da arte em todos os grupos, independente da classe social ou da faixa etária é de suma importância no processo de construção do conhecimento, possibilitando o desenvolvimento integral do ser humano.

Para Henri Lefebvre, a arte é social não apenas pelo sentimento compartilhado, mas também pela solicitação. Ao buscar a arte, mais do que a aprendizagem de uma técnica, o indivíduo busca uma aliada na expressão da sua sensibilidade perante o mundo.

A estética, este fenômeno de relação entre o artista e a sua obra, entre o homem e suas formações, livre de conceitualizações, se move no tempo e no espaço. O desafio está em desenvolver um trabalho artístico, intimamente ligado com a estética do nosso tempo, sem dissimular realidades, mas ocupando-se delas e transformando, através da expressão, o próprio ser humano.

Como Mário de Andrade, tantas vezes citado, “eu não sei o que é belo e nem o que é arte”, mas certamente sei, que é fundamental acreditar que através da arte podemos construir uma sociedade melhor, tanto estética como eticamente falando, pois a arte integra todos os campos de aprendizado, disciplina o olho, a mão, o corpo enfim e preenche o espírito e o tempo.




terça-feira, 20 de setembro de 2011

Brasília, Cidade sem Limites

Brasília – Cidade sem Limites – Defendendo o fato inusitado de que a antiga civilização Inca teve influência determinante na história da construção de Brasília, o documentário de 15 minutos propõe uma nova leitura da História do Brasil. Em uma sequência criteriosa de fatos históricos, coloca em evidência acontecimentos desconhecidos que foram importantes na escolha do local para construção da capital. Inspirado na obra de Roselis von Sass e baseado em pesquisas e depoimentos, o filme não abre mão de mostrar a singularidade e a beleza da cidade, permeada pela trilha sonora original de Lucas Franco. 

Roteiro e Direção - Fátima Seehagen

http://www.youtube.com/user/literaturadograal#p/a/u/0/DnvJTDcGdPk

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Perplexo.

Olhei. Vi o pássaro. Era preto.
Pássaro Preto.

Olhei. Vi o pássaro. Era Azul.

- Pássaro, você é preto ou azul?

- Sou tinta, sou luz.
Sou reflexo.

E eu perplexo!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A árvore arvorecerá verde.

Em Embu das Artes
a árvore arvorecerá verde,
o pássaro passareará espantos
e o sapo sapeará pelos cantos.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um desmando de proporções irreparáveis

É do conhecimento de quase todos os brasileiros que o artesanato é uma das mais fortes expressões do nosso povo. Por sua beleza e variedade, há muito ultrapassou as barreiras nacionais e pode ser considerado um ponto forte na economia do país, contribuindo nos mais diversos setores, inclusive na área do turismo.

Por outro lado, o turismo já responde pelo 3º lugar em divisas internacionais colhidas pelo Brasil, somente atrás das exportações de grãos de soja e minério de ferro.

Também sabemos que o turismo ecológico se fortalece nestes tempos em que vivemos, quando preservar é mais que uma opção de vida - é uma necessidade real - e que aliar atividades culturais ao eco-turismo cria uma marca de identidade nacional.

Com tudo isto, é surpreendente nos depararmos com a proposta da Prefeitura da cidade de Embu das Artes que ‘pretende implementar um Corredor Empresarial, com indústrias e logística, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Embu Verde e da Área de Proteção aos Mananciais da Guarapiranga, sem considerar os impactos irreversíveis que isso causaria.’

A visão moderna do setor de turismo se apóia no ambiente natural e cultural, dentro de um planejamento estratégico dirigido para a sustentabilidade. As atividades turísticas são ferramentas indispensáveis no desenvolvimento de uma região, baseando-se na promoção, aproveitamento e conservação de seus recursos naturais. Ao termo “turismo ambiental” está inerente o planejamento ambiental, a proteção do patrimônio cultural, o uso de tecnologias alternativas ambientalmente apropriadas, a participação das comunidades locais e a melhoria da qualidade de vida, tanto do turista como do anfitrião, morador da cidade, no caso, o cidadão embuense.

Famosa pela feira de artes e artesanato que atrai 30 mil visitantes nos fins de semana, Embu das Artes se vê obrigada a enfrentar este problema, completamente incomum para uma Estância Turística, cujo foco principal de desenvolvimento econômico gerador de emprego e renda é o turismo: comprometer as próprias reservas naturais que lhe garantem o status de Estância Turística.

Num momento em que o Ministério do Meio Ambiente se propõe a transversalizar a perspectiva de estímulo e apoio à construção de sociedades sustentáveis, promovendo o controle e a participação social, é preciso mobilizar a comunidade e organizações no sentido de suspender desmandos desta monta.





A arte brasileira pode e deve indignar-se com esta arrogância dos que detém momentaneamente o poder.
 Conheça o problema e ajude:
Embu 2020: a cidade que nós queremos
http://www.embu2020.com.br/

domingo, 1 de maio de 2011

Como é mesmo o nome da planta?

Quando escolhemos nosso apartamento, a vista da janela da sala teve grande parcela de influência na decisão. Ficava no segundo andar e mesmo assim, plantado rente à parede externa do prédio, um formidável arbusto quase alcançava a nossa janela.

Pergunta daqui, pergunta dali – qual seria o nome daquela planta?  Ninguém sabia informar.

Passado um ano, as chichiantes cigarras já haviam passado e, para nossa completa alegria, um curioso cacho começou a se formar bem lentamente. O arbusto havia subido ainda mais, ultrapassando nosso andar em alguns galhos, mas resolvera florescer bem ali, frente a frente ao meu olhar contemplativo.

Enquanto isto eu não conseguia descobrir o nome da arvorezinha – status ao qual eu já havia promovido o arbusto que crescia desavisado, sem se importar com as questões de batismo. Há muitas delas espalhadas pela cidade como plantas ornamentais nos jardins dos edifícios – mas ninguém para me dizer nem o nome nem o apelido desta minha vizinha verde. Nenhum amigo destes que entendem tudo de jardim, nenhum jardineiro destes que conhecem tudo de amizade, nenhum porteiro, que sabem tanto de jardim como de amizades – nada.

E o cacho crescendo.

Aquilo que parecia um amontoado de bolinhas verdes, comportadamente enfileiradas, foi se matizando de rosado e começou a atrair abelhas! Muitas abelhas. Foi quando assisti, da minha janela, ao inusitado: um garboso bailarino, beija-flor tesourão, disputando o espaço com as abelhas. Luta e balé, dança e contradança e eu, emoção contida, estática a poucos metros do espetáculo.

Mais uns poucos dias, como por uma espécie de milagre, centenas de inflorescências brancas se transformaram em um brilhante cacho de frutinhas vermelhas que logo atraiu toda a população gorjeante da redondeza.


Maiores e pequeninos se revezavam na cata das bolinhas vermelhas que deviam ser mesmo um bom petisco, tamanha era a competição.  Sabiás do campo, laranjeira, belicosos bem-te-vis, cambacicas e corruíras cantadoras. Cada um por sua vez queria ser dono absoluto do banquete! Muito canto, muita alegria.




À medida que os dias se passavam, o cacho foi escasseando. Mesmo assim, era um estratégico mirante para os visitantes tardios. 



Aos poucos só se via, no lugar das frutinhas, os pedúnculos vazios, murchos e enegrecidos. A festa havia acabado.

Que engano! Num fim de tarde, um belíssimo casal de pica-paus do campo, veio colher algo dentro dos nichos já quase secos. Calmamente tomaram também o seu quinhão. Nada se perdeu! Por dois meses, mais ou menos, pude observar de perto o ciclo da vida. Em um único arbusto tão singelo uma riqueza extraordinária!

Fiquei matutando: Posso ser assim também — alimento, vida e abrigo para uma legião?

O nome da planta? Meses depois, saindo do Mercado de Flores, vi um florista carregando um enorme arranjo vermelho – mas não eram flores, eram frutinhas — as minhas frutinhas!

— Moço – como se chama isto?

— Esta bolinha? É fruto do Cheflerão, o rapaz respondeu com toda naturalidade.

Cheflerão! O nome não podia ser mais apropriado – aumentativo. Pois bem, plante um Cheflerão no seu jardim e espere. Prepare-se para a descoberta da vida – plena e comovente.






PS. Imagens registradas por um paciente fotógrafo, amante da natureza, meu marido e cúmplice nestas descobertas - Waldemar Seehagen.


" Tá olhando o quê?"
Parecia protestar contra a invasão de privacidade!

domingo, 3 de abril de 2011

Receita de Amor Perfeito

Ingredientes:

- um coração amoroso;
- uma porção generosa de doce de leite;
- uma chama da amizade ( Procure por toda parte - é um ingrediente muito importante);
- uma pitada de cheiro de Sol;
- duas colheres de pó de estrelas e
- um prato de melComo fazer:

Lambuze o coração amoroso no doce de leite e aqueça na chama da amizade,

em fogo brando, por dias e noites.


Mexa e Mexa. Ele se tornará mais compreensivo.


Acrescente uma pitada de cheiro de Sol e as duas colheres de pó de estrelas.


Mexa e Mexa. Ele se tornará mais sonhador.



Quando alcançar o ponto fino da sensibilidade desenforme em um prato de mel.
Sirva com uma única restrição:
- Apenas para pessoas verdadeiras.

segunda-feira, 28 de março de 2011

E o nu artístico?

Com a publicação do último post  veio a pergunta inevitável: E o nu artístico?

A vulgarização da imagem da mulher e a supervalorização do corpo nos mostram que todos os sentidos estão aumentados em proporções nunca imaginadas, não apenas na pintura e escultura, mas no cinema, teatro e televisão. Sempre foi assim?

O nu nas artes plásticas tem sido a temática mais recorrente encontrada ao longo da História da Arte desde a “Vênus de Willendorf”, escultura do período pré-histórico que inclusive usei para ilustrar o texto anterior.

As primeiras representações de nus com uma finalidade estética surgiram na Grécia Antiga. É sempre de causar espanto a precisão da figura humana na Arte Grega, uma vez que sabemos que lhes era proibido o estudo da anatomia humana.

A Mitologia grega era composta por figuras antropomórficas, seres perfeitos que o homem tentava igualar. A preocupação com as proporções levaria os artistas a estudos e observações dos corpos de atletas para chegar à criação do nu idealizado, saindo do plano da representação realista para a busca de um ideal de beleza. Esta busca pela perfeição levou à instituição de um verdadeiro culto do corpo de proporções ideais que as esculturas de Fídias, Praxíteles e outros artistas plasmaram no mármore e no bronze.

Também nos desenhos dos velhos mestres, anteriores ao século XX, percebe-se que este tipo de desenho continuaria sendo feito por observação. Durante o Renascimento, com a institucionalização do ensino de arte através das academias, a representação de nus passou a fazer parte da formação de pintores e escultores.   
     
Apesar destes registros históricos, é interessante analisarmos a coerência de alguns trechos do artigo de Luciana Gruppelli Loponte, intitulado "Sexualidades, artes visuais e poder: pedagogias visuais do feminino" :

“Na história da arte ocidental, os corpos femininos são um tema recorrente, construindo e consolidando através de pinturas e esculturas um olhar masculino sobre a imagem das mulheres.

John Berger, por exemplo, argumenta o quanto a representação das mulheres na arte ocidental solidifica uma imagem feminina de passividade, de submissão a um olhar masculino, tanto do artista quanto do espectador preferencial -"os homens atuam e as mulheres aparecem". Para ele, ”o protagonista principal dessas obras, um suposto espectador masculino para o qual a obra é endereçada (tanto como espectador como possível comprador), nunca é pintado. A mulher é o motivo principal do nu como gênero da pintura a óleo européia, mesmo quando o tema a ser representado é uma alegoria ou história mítica.”

Continuando Loponte salienta:

“A sexualidade não é algo 'dado' pela natureza, que esteja simplesmente ancorado em um corpo, que é vivido da mesma forma em todas as épocas e lugares.”

Realmente, hoje a sexualidade se mostra completamente banalizada e a linha que demarca os limites da arte erótica há muito foram ultrapassados.

Eu pessoalmente acredito que quando falamos em arte, temos que pressupor a livre expressão, entretanto esta mesma liberdade me dá o direito de dizer não à banalidade imposta, disfarçada de arte - hipocrisia comercial.

Fátima Seehagen
Interferência Fotográfica sobre original de Waldemar Seehagen

quinta-feira, 17 de março de 2011

A mulher na arte... a arte na mulher


As formas femininas povoam os ideais dos artistas desde tempos imemoriais. E como compreender o sentido da arte na mulher?

Durante boa parte da história da arte vamos encontrar a imagem da mulher como representação do conceito terreno do amor, da fertilidade, da maternidade, da sensualidade e até muitas vezes, da futilidade.

Durante os séculos XVI e XVII, a arte desempenhou um papel importante na sociedade aristocrática e eclesiástica européia. Nesta época os pintores, homens por sinal, altamente treinados, tinham como seus patronos os líderes políticos, religiosos, científicos, e intelectuais. Deste período encontramos registros da arte de algumas poucas mulheres como Judith Leyster  e Rachel Ruysch .

Algum tempo depois, já no século XVIII, a idade da Razão, algumas mulheres conseguiram se destacar nos salões de arte de Paris, entretanto por um breve período de tempo.

No século XIX, quando mudanças sociais radicais afetaram a vida das mulheres, em ambos os lados do Atlântico, Mary Cassatt e Camille Claudel transferiram para os seus trabalhos o drama complexo de artistas. Artistas essas que, sendo mulheres, se viam restritas a confinarem-se aos conceitos impostos pelos preconceitos da época.

A primeira metade do século XX viu mudanças tecnológicas, filosóficas e artísticas muito grandes. A guerra alterara a maneira com que os povos vivenciavam o mundo em torno deles, mas ainda assim, são poucas as mulheres que deixaram de ser meros modelos para serem modeladoras.

Também, o geneticista Decio Altimari analisa a trajetória da mulher na arte por este mesmo viés: "a mulher na arte foi representada naquelas todas maneiras em que é ou musa inspiradora, ou veículo de alegorias (da Paz, da Justiça, da Ira, da Avareza, da Dúvida, da Guerra, da Ciência, da Fé, da Esperança, da Caridade, da Luxúria, da Peste e até da morte) ou, sobretudo, a atriz principal do milagroso mistério da reprodução na maternidade”.

Enfim, dentro do fazer artístico, no decorrer de tantos séculos, a mulher, enquanto criadora, permaneceu na maioria das vezes, uma excentricidade, embora este cenário aponte para mudanças radicais na contemporaneidade.

Mas qual seria a real potencialidade da mulher na arte?

O artista é, antes de tudo, um artesão: faz aparecer no espaço palpável e perceptível aquilo que antes era coisa imaginada. O gesto que se torna cor e dança, verbo e musica, movimento e quietude, em espantosa transmutação, desperta sentidos adormecidos na busca da experiência estética e constitui um terreno propício para o crescimento tanto individual como coletivo da feminilidade uma vez que permite que seus talentos internos aflorem.

Sendo assim, a própria mulher, dotada das capacidades de intuição que lhe são inerentes, repleta de conteúdo, irá descobrir a verdadeira medida do valor da mulher na arte e da arte na mulher. Cabe a ela, mais uma vez, lançar os alicerces para uma arte soberana, que mereça ser refletida e celebrada.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Fátima Seehagen
acrílica e aerografia
sobre alumínio escovado
Uma amiga comentou o post anterior:
“ Você está pintando com palavras!”

Fiquei remoendo as palavras e cheguei à conclusão que é o mesmo que escrever com cores!

Quando o artista pinta algo, escreve em sua tela os seus sentimentos, pedacinhos de sonhos, de invenções, um monte de pedacinhos de tudo que sozinhos podem significar quase nada e juntos possuem uma sonoridade multicor que pode ser ensurdecedora! É a palavra pintada.

Então se tomo do mundo palavras coloridas, um amor assim todo azul, uma alegria meio púrpura e um pedaço de saudade acinzentada posso escrever colorido. Pintar com palavras.

Assim, simples – arte à procura da beleza que apele diretamente aos sentimentos mais puros do ser humano, sem passagem pela lógica ou pela razão.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Borboleta

Parada ali, mal tocando as pétalas, deixava, calada, suas impressões:

Primeiro as asas batiam freneticamente como se aplaudissem a beleza da flor.
Depois, mais calma, as asas repousavam como se fossem mãos postas em uma prece de agradecimento.
Por último, um ligeiro tremor tomou conta de todo o seu corpo:
desenhava no ar figuras e signos só perceptíveis aos loucos, às crianças e aos apaixonados.