“Entre linhas, panos e agulha
Eu bordava interessantes pedaços de vida...”
Marisa Fialho
Fios de
seda, de algodão, seis fios. Etamine, vagonite, talagarças… Bordados: tradição
vinda do berço, ofício passado de mãe para filha, passatempo aprendido na
juventude.
Segurando a
linha e a agulha com delicadeza, tecendo fios, bordadeiras enfeitam todo tipo
de tecido. Ponto a ponto vão penetrando o pano, espantando a tristeza, os
problemas, as adversidades. Na urdidura do bordado, unem não só linhas e
pontos, mas também pedaços da própria vida.
Podemos
imaginar que para um belo e duradouro bordado precisem de linha de qualidade.
Que seja resistente para durar, de cores firmes e belas para encantar, de
textura macia para não ferir as mãos de quem borda e, se possível, algo
reluzente, para brilhar. Linhas assim existem em boas lojas do ramo.
Mas o que acontece quando trabalhamos em
outro tipo de bordado: a nossa vida? Que fios devemos usar para adornar os
caminhos de glórias e perdas que percorremos?
- Nossos
pensamentos.
Você já
parou pra pensar que não há um momento, menor que seja, em que a nossa mente
fique vazia? – Não faltará fio! Cada pensamento que permitimos nascer em nosso
cérebro produz uma imagem específica, de formas ternas ou de aparência
monstruosa. Fios, elaborados intencionalmente ou não, pois o mundo à nossa
volta derrama sobre nós pensamentos de toda ordem, e nem sempre estamos atentos
para defendermos nosso mundo interior.
- O que
você costuma pensar?
Se pensamos
coisas boas, expandimos e ampliamos a nossa energia. Obedecendo a mesma regra,
se pensamos e nos ligamos em coisas negativas, perdemos vitalidade. Cada
pensamento produz um fio e a repetição constante de um mesmo pensamento
funde-se com o primeiro fio-pensamento e o fortifica. Isto todos já tivemos a
oportunidade de vivenciar nos pensamentos repetitivos, mas talvez por não
enxergarmos nossos pensamentos não creditamos a eles o devido valor.
Muitas
vezes geramos pensamentos de medo, acreditando que somos incapazes de superar
uma determinada situação, nos sentindo cada vez mais fracos. Outras vezes,
dirigimos aos nossos desafetos pensamentos alterados, densos e mesquinhos.
Medo, inveja, ódio, desconfiança são como linhas podres que resultam em um
bordado feio e roto. Mesmo que os nossos maus pensamentos sejam direcionados a
outra pessoa, ficamos ligados a eles como um artista fica ligado à sua obra.
Daí alguns dias de nossas vidas serem bordados tão toscamente.
Certamente
não iremos conseguir mudar nossos pensamentos de uma hora para outra. Será um
grande exercício diário, onde somente com modificação interior, melhorando quem
nós somos poderemos nos tornar verdadeiros artesãos do bem.
Afastando-nos energicamente de pensamentos conflitantes, duros e secos,
buscando a reflexão e a doçura das palavras amigas em qualquer situação, iremos
produzir fios como de seda, matizados de cores vivas, para tecer o bordado da
vida, curando as dores do passado, preenchendo o presente e enfeitando o
futuro, elaborando com consciência a mais bela vestimenta com a qual possamos
nos apresentar.
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