domingo, 1 de maio de 2011

Como é mesmo o nome da planta?

Quando escolhemos nosso apartamento, a vista da janela da sala teve grande parcela de influência na decisão. Ficava no segundo andar e mesmo assim, plantado rente à parede externa do prédio, um formidável arbusto quase alcançava a nossa janela.

Pergunta daqui, pergunta dali – qual seria o nome daquela planta?  Ninguém sabia informar.

Passado um ano, as chichiantes cigarras já haviam passado e, para nossa completa alegria, um curioso cacho começou a se formar bem lentamente. O arbusto havia subido ainda mais, ultrapassando nosso andar em alguns galhos, mas resolvera florescer bem ali, frente a frente ao meu olhar contemplativo.

Enquanto isto eu não conseguia descobrir o nome da arvorezinha – status ao qual eu já havia promovido o arbusto que crescia desavisado, sem se importar com as questões de batismo. Há muitas delas espalhadas pela cidade como plantas ornamentais nos jardins dos edifícios – mas ninguém para me dizer nem o nome nem o apelido desta minha vizinha verde. Nenhum amigo destes que entendem tudo de jardim, nenhum jardineiro destes que conhecem tudo de amizade, nenhum porteiro, que sabem tanto de jardim como de amizades – nada.

E o cacho crescendo.

Aquilo que parecia um amontoado de bolinhas verdes, comportadamente enfileiradas, foi se matizando de rosado e começou a atrair abelhas! Muitas abelhas. Foi quando assisti, da minha janela, ao inusitado: um garboso bailarino, beija-flor tesourão, disputando o espaço com as abelhas. Luta e balé, dança e contradança e eu, emoção contida, estática a poucos metros do espetáculo.

Mais uns poucos dias, como por uma espécie de milagre, centenas de inflorescências brancas se transformaram em um brilhante cacho de frutinhas vermelhas que logo atraiu toda a população gorjeante da redondeza.


Maiores e pequeninos se revezavam na cata das bolinhas vermelhas que deviam ser mesmo um bom petisco, tamanha era a competição.  Sabiás do campo, laranjeira, belicosos bem-te-vis, cambacicas e corruíras cantadoras. Cada um por sua vez queria ser dono absoluto do banquete! Muito canto, muita alegria.




À medida que os dias se passavam, o cacho foi escasseando. Mesmo assim, era um estratégico mirante para os visitantes tardios. 



Aos poucos só se via, no lugar das frutinhas, os pedúnculos vazios, murchos e enegrecidos. A festa havia acabado.

Que engano! Num fim de tarde, um belíssimo casal de pica-paus do campo, veio colher algo dentro dos nichos já quase secos. Calmamente tomaram também o seu quinhão. Nada se perdeu! Por dois meses, mais ou menos, pude observar de perto o ciclo da vida. Em um único arbusto tão singelo uma riqueza extraordinária!

Fiquei matutando: Posso ser assim também — alimento, vida e abrigo para uma legião?

O nome da planta? Meses depois, saindo do Mercado de Flores, vi um florista carregando um enorme arranjo vermelho – mas não eram flores, eram frutinhas — as minhas frutinhas!

— Moço – como se chama isto?

— Esta bolinha? É fruto do Cheflerão, o rapaz respondeu com toda naturalidade.

Cheflerão! O nome não podia ser mais apropriado – aumentativo. Pois bem, plante um Cheflerão no seu jardim e espere. Prepare-se para a descoberta da vida – plena e comovente.






PS. Imagens registradas por um paciente fotógrafo, amante da natureza, meu marido e cúmplice nestas descobertas - Waldemar Seehagen.


" Tá olhando o quê?"
Parecia protestar contra a invasão de privacidade!