domingo, 8 de março de 2015

A mulher na arte... a arte na mulher

Fátima Seehagen - Aerografia, carvão e acrílica sobre aço escovado
Durante boa parte da história da arte vamos encontrar a mulher como representação do conceito terreno do amor, da fertilidade, da maternidade, da sensualidade ou da futilidade. Podemos mesmo dizer que as formas femininas povoam os ideais dos artistas desde tempos imemoriais.

Em uma palestra, há algum tempo atrás, o geneticista Decio Altimari nos apresenta uma análise da trajetória da mulher na arte:
"Realmente, a mulher na arte foi representada naquelas todas maneiras em que é ou musa inspiradora, ou veículo de alegorias (da Paz, da Justiça, da Ira, da Avareza, da Dúvida, da Guerra, da Ciência, da Fé, da Esperança, da Caridade, da Luxúria, da Peste e até da morte) ou, sobretudo, a atriz principal do milagroso mistério da reprodução na maternidade”.

Mas qual seria a posição da arte na mulher e das potencialidades criativas femininas?

Durante os séculos XVI e XVII, a arte desempenhou um papel importante na sociedade aristocrática e eclesiástica européia. Os pintores, homens por sinal, altamente treinados tinham como seus patronos os líderes políticos, religiosos, científicos, e intelectuais. Ainda assim encontraremos a arte de algumas mulheres como Judith Leyster  e Rachel Ruysch .

Algum tempo depois, já no século XVIII, a idade da Razão, que estranhamente também foi chamada "a idade feminina" as mulheres conseguiram se destacar nos salões de arte de Paris, por um breve período.

Fátima Seehagen - Acrílica sobre papel
Com o século XIX, mudanças sociais radicais, afetaram a vida das mulheres em ambos os lados do Atlântico. Mary Cassatt e Camille Claudel transferiram para os seus trabalhos o drama  complexo de artistas que, como mulheres se viam restritas a confinarem-se aos conceitos impostos.

A primeira metade do século XX viu mudanças tecnológicas, filosóficas e artísticas muito grandes. A guerra alterara a maneira com que os povos vivenciavam o mundo em torno deles, mas ainda são poucas as mulheres que deixaram de ser meros modelos para serem modeladoras e, quando o fizeram, invariavelmente, deixaram surgir, em contrapartida, a imagem de uma heroína fria, orgulhosa e sensual: a “femme fatale”.

Em fim, dentro do fazer artístico, no decorrer de tantos séculos a mulher, enquanto criadora, permaneceu na maioria das vezes, uma excentricidade.


Fátima Seehagen - Acrílica sobre papel

Fátima Seehagen - Acrílica sobre papel





No entanto, vale lembrar que o artista é, antes de tudo, um artesão. Faz aparecer no espaço palpável e perceptível aquilo que antes era a coisa imaginada. Esta espantosa transmutação através do gesto que se torna cor e dança, verbo e musica, movimento e quietude, despertando sentidos adormecidos na busca da experiência estética poderá ser o apoio ideal para a feminilidade  tanto no  crescimento individual como coletivo.






Só mesmo a própria mulher, dotada das capacidades de intuição que lhe são inerentes, poderá redescobrir a verdadeira medida do valor tanto da mulher na arte como da arte na mulher. Cabe-lhe, mais uma vez, a “
concretização da obra!”


Fátima Seehagen - Acrílica sobre papel

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O que você costuma bordar?



Entre linhas, panos e agulha
Eu bordava interessantes pedaços de vida...”
Marisa Fialho
      

        Fios de seda, de algodão, seis fios. Etamine, vagonite, talagarças… Bordados: tradição vinda do berço, ofício passado de mãe para filha, passatempo aprendido na juventude.

        Segurando a linha e a agulha com delicadeza, tecendo fios, bordadeiras enfeitam todo tipo de tecido. Ponto a ponto vão penetrando o pano, espantando a tristeza, os problemas, as adversidades. Na urdidura do bordado, unem não só linhas e pontos, mas também pedaços da própria vida.

        Podemos imaginar que para um belo e duradouro bordado precisem de linha de qualidade. Que seja resistente para durar, de cores firmes e belas para encantar, de textura macia para não ferir as mãos de quem borda e, se possível, algo reluzente, para brilhar. Linhas assim existem em boas lojas do ramo.

        Mas o que acontece quando trabalhamos em outro tipo de bordado: a nossa vida? Que fios devemos usar para adornar os caminhos de glórias e perdas que percorremos?

        - Nossos pensamentos.

         Você já parou pra pensar que não há um momento, menor que seja, em que a nossa mente fique vazia? – Não faltará fio! Cada pensamento que permitimos nascer em nosso cérebro produz uma imagem específica, de formas ternas ou de aparência monstruosa. Fios, elaborados intencionalmente ou não, pois o mundo à nossa volta derrama sobre nós pensamentos de toda ordem, e nem sempre estamos atentos para defendermos nosso mundo interior.

        - O que você costuma pensar?

        Se pensamos coisas boas, expandimos e ampliamos a nossa energia. Obedecendo a mesma regra, se pensamos e nos ligamos em coisas negativas, perdemos vitalidade. Cada pensamento produz um fio e a repetição constante de um mesmo pensamento funde-se com o primeiro fio-pensamento e o fortifica. Isto todos já tivemos a oportunidade de vivenciar nos pensamentos repetitivos, mas talvez por não enxergarmos nossos pensamentos não creditamos a eles o devido valor.

         Muitas vezes geramos pensamentos de medo, acreditando que somos incapazes de superar uma determinada situação, nos sentindo cada vez mais fracos. Outras vezes, dirigimos aos nossos desafetos pensamentos alterados, densos e mesquinhos. Medo, inveja, ódio, desconfiança são como linhas podres que resultam em um bordado feio e roto. Mesmo que os nossos maus pensamentos sejam direcionados a outra pessoa, ficamos ligados a eles como um artista fica ligado à sua obra. Daí alguns dias de nossas vidas serem bordados tão toscamente.

        Certamente não iremos conseguir mudar nossos pensamentos de uma hora para outra. Será um grande exercício diário, onde somente com modificação interior, melhorando quem nós somos poderemos nos tornar verdadeiros artesãos do bem.

        Afastando-nos energicamente de pensamentos conflitantes, duros e secos, buscando a reflexão e a doçura das palavras amigas em qualquer situação, iremos produzir fios como de seda, matizados de cores vivas, para tecer o bordado da vida, curando as dores do passado, preenchendo o presente e enfeitando o futuro, elaborando com consciência a mais bela vestimenta com a qual possamos nos apresentar.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Natal - O Amor em nossas vidas


O primeiro presente de Natal que tenho lembrança foi um carrinho de boneca ... Presente de Papai Noel custa mais do que você imagina!
É esta história que gostaria de contar para vocês neste Natal...
 
 

Sempre e sempre evocamos as lembranças de Natal. Umas felizes, outras nem tanto... Eu tinha 4 anos. Os acontecimentos daquele ano deixaram a minha família desestruturada. Não houve árvore ou noite de Natal, mas pela manhã encontrei perto da minha cama um carrinho de bonecas, destes de vime, que imitam os carrinhos de bebê... Dentro dele apenas algumas balas – e eu havia pedido ao Papai Noel uma boneca!

Mas havia um bilhete: Papai Noel estava muito ocupado e não pudera providenciar a boneca, certamente no próximo ano ela viria...

Fiquei dias empurrando o carrinho vazio - a ausência da minha boneca sonhada. Levava os meus pensamentos de criança para passear:

- Como podia acontecer que ele não tivesse tempo?

-O tempo existia para o Papai Noel?

Em minha cabeça repetia as lições daquele ano:

- Fique quieta... Não faça barulho... Olha o presente de papai Noel...

- Não minta, se não papai Noel não trará seu presente...

Tantas recomendações e agora ele não trouxera a minha boneca?

Hoje sei que o “tempo” que faltara não era outro se não o dinheiro necessário para a compra do esperado presente. Mas na minha tristeza eu desconfiava que estivessem mentindo para mim! Se me enganavam sobre aquilo que para mim era tão sério – o que não fariam com os outros assuntos?

-Papai Noel existiria mesmo?

Alguns amiguinhos já haviam me contado que Papai Noel não existia e a partir da terrível novidade, passaram a enganar seus pais fingindo que ainda acreditavam para não parar de ganhar os presentes... Era um jogo. Crianças entendem de jogos e era assim que este funcionava: a primeira pequena cumplicidade em uma grande mentira...

Hoje, com a vida salpicada de tantas outras ausências, como tantos outros adultos, me pergunto: o que me é ausente neste momento? Ou serei eu a ausente?

Quando fui mãe, por dois ou três anos me esforcei em providenciar fartos papais noéis para meus filhos. Até o dia em que percebi que estava repetindo a mesma mentira que tanto me magoara quando criança, nos mesmos moldes, com a mesma ausência de amor verdadeiro. Sim! Por que o amor verdadeiro está intimamente ligado à verdade. Valeria à pena a perpetuação desta figura que nada mais é do que a máscara sórdida da ditadura do comércio em nossas vidas?
 
Você tem uma criança do seu lado? Pergunte a ela o significado do Natal.

- Se ela não souber sobre o nascimento de Jesus – conte a ela!

É uma história linda. É uma história verídica: a história da presença do amor em nossas vidas.

Feliz Natal!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

De onde vem a Inspiração?


A arte imita simplesmente a vida que imita a arte que... ou a arte é a própria vida?

Oscar Wilde dizia que a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. Seria isto verdade?

Tão antigas como a arte, as nossas experiências em querer entender a origem do processo criativo já nos levou a exaustivas pesquisas, na maioria das vezes sem uma resposta definitiva. De onde vem a inspiração?

Em seus estudos no livro “Do espiritual na Arte”, o pintor e músico russo Wassily Kandinsky indica que a arte nasce da espiritualidade.
Foi assim que o artista renunciou a representação figurativa tentando encontrar a relação absoluta entre a forma, a cor e o ânimo do contemplador.

O que acontece conosco quando entramos no jogo dos intricados significados da arte? O que é verdade e o que é ficção?

Joseph Campbell, professor e escritor norte americano de origem irlandesa, que ficou conhecido por seu trabalho no campo da mitologia comparada diz que
 - “Aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos.”
Campbell, que nos incita aqui a ler os mitos, inclusive os de outras culturas, pelo poder da sua universalidade, cita em seu livro “O poder do mito” a interessante leitura sobre o  “Santo Graal”.

Também Richard Wagner, compositor e intelectual, ativista político e revolucionário, cujas óperas tiveram grande influência na música ocidental, dedicou-se à obra “Parcival” como seu último trabalho, onde o Graal representa uma força que sustenta os piedosos, proporcionando-lhes bebida e alimento.
Campbel vai mais longe quando afirma que “A vida espiritual é o buquê, o perfume, o florescimento e a plenitude da vida humana, e não uma virtude sobrenatural imposta a ela.”

Na obra "Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal", o escritor e filósofo alemão Abdruschin discorre com propriedade:
" Somente a obra do espírito, isto é, a arte, sobreviveu aos povos, que desmoronaram pela atuação de seu raciocínio frio e sem vida. Sua sabedoria, tão altamente apregoda não os pode salvar absolutamente. Egípcios, gregos, romanos seguiram este caminho, mais tarde também os espanhóis, franceses e agora os alemães, - contudo as obras da verdadeira arte sobreviveram a todos eles!"


O tema fundamental nos mitos é a busca espiritual. Nesta busca nos aproximamos da arte e em nossa própria intuição encontramos uma saída para o enigma da inspiração.

Fátima Seehagen