sexta-feira, 4 de julho de 2014

O que você costuma bordar?



Entre linhas, panos e agulha
Eu bordava interessantes pedaços de vida...”
Marisa Fialho
      

        Fios de seda, de algodão, seis fios. Etamine, vagonite, talagarças… Bordados: tradição vinda do berço, ofício passado de mãe para filha, passatempo aprendido na juventude.

        Segurando a linha e a agulha com delicadeza, tecendo fios, bordadeiras enfeitam todo tipo de tecido. Ponto a ponto vão penetrando o pano, espantando a tristeza, os problemas, as adversidades. Na urdidura do bordado, unem não só linhas e pontos, mas também pedaços da própria vida.

        Podemos imaginar que para um belo e duradouro bordado precisem de linha de qualidade. Que seja resistente para durar, de cores firmes e belas para encantar, de textura macia para não ferir as mãos de quem borda e, se possível, algo reluzente, para brilhar. Linhas assim existem em boas lojas do ramo.

        Mas o que acontece quando trabalhamos em outro tipo de bordado: a nossa vida? Que fios devemos usar para adornar os caminhos de glórias e perdas que percorremos?

        - Nossos pensamentos.

         Você já parou pra pensar que não há um momento, menor que seja, em que a nossa mente fique vazia? – Não faltará fio! Cada pensamento que permitimos nascer em nosso cérebro produz uma imagem específica, de formas ternas ou de aparência monstruosa. Fios, elaborados intencionalmente ou não, pois o mundo à nossa volta derrama sobre nós pensamentos de toda ordem, e nem sempre estamos atentos para defendermos nosso mundo interior.

        - O que você costuma pensar?

        Se pensamos coisas boas, expandimos e ampliamos a nossa energia. Obedecendo a mesma regra, se pensamos e nos ligamos em coisas negativas, perdemos vitalidade. Cada pensamento produz um fio e a repetição constante de um mesmo pensamento funde-se com o primeiro fio-pensamento e o fortifica. Isto todos já tivemos a oportunidade de vivenciar nos pensamentos repetitivos, mas talvez por não enxergarmos nossos pensamentos não creditamos a eles o devido valor.

         Muitas vezes geramos pensamentos de medo, acreditando que somos incapazes de superar uma determinada situação, nos sentindo cada vez mais fracos. Outras vezes, dirigimos aos nossos desafetos pensamentos alterados, densos e mesquinhos. Medo, inveja, ódio, desconfiança são como linhas podres que resultam em um bordado feio e roto. Mesmo que os nossos maus pensamentos sejam direcionados a outra pessoa, ficamos ligados a eles como um artista fica ligado à sua obra. Daí alguns dias de nossas vidas serem bordados tão toscamente.

        Certamente não iremos conseguir mudar nossos pensamentos de uma hora para outra. Será um grande exercício diário, onde somente com modificação interior, melhorando quem nós somos poderemos nos tornar verdadeiros artesãos do bem.

        Afastando-nos energicamente de pensamentos conflitantes, duros e secos, buscando a reflexão e a doçura das palavras amigas em qualquer situação, iremos produzir fios como de seda, matizados de cores vivas, para tecer o bordado da vida, curando as dores do passado, preenchendo o presente e enfeitando o futuro, elaborando com consciência a mais bela vestimenta com a qual possamos nos apresentar.